CLICK HERE FOR FREE BLOGGER TEMPLATES, LINK BUTTONS AND MORE! »

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Meu credo etéreo

www.deviantart.com


Creio na bondade
Na inércia dos corpos dos amantes
Na pureza que ainda resta em alguns olhares
Na compaixão que ronda atos marcantes.

Creio no beijo suave
No que estala, no que molha
Na sinceridade das línguas que se enroscam
Nas mãos que se marcam em alianças
Ou ainda naquelas que as alianças não estão necessariamente nos dedos,
Mas na entrega.

Creio em pores-do-sol amarelo-alaranjados dourando o céu
Em passarinhos que conversam com lagartixas
Em joaninhas que deslizam pelas folhas
Em orvalhos que aliviam dores
Em carinho que dissolve o fel.

Creio em parques de diversões feitos de nuvens
Em florestas feitas de doces
Em cristais que exalam perfumes
Na humanidade de diversas cores.

Autoria: Valéria Sabrina

domingo, 25 de setembro de 2011

Dorme, amor meu



   Já é tarde, eu sei.  Mas não deixarei que durmas sem um beijo meu. Sem aquele afago mítico em teus cabelos, sem passear a mão pela tua barba, e encostar meus cílios aos teus. Dorme como quem dorme um anjo, repousado em nuvens feitas de amor, recoberto de carícias divinais. Como quando se tem o Pai a velar por um filho.
   Repousas sereno com a tua cabeça em meu colo caloroso, que abriga todo o ardor de uma mulher e um primor fragoso, regado de mimos e congratulações a ti que és meu porto, amor meu. Tal graça és que descanso a minha embarcação em teu cais. Em teus olhos lânguidos abrigo-me do perigo, isso, quando o próprio perigo não me vem deles. Todavia, me arrisco sem receio, pudor ou fraquejamento. 
    Insisto. Dorme que já é tarde. Sonhemos nossas almas unidas para sempre.


Autoria: Valéria Sabrina

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A um ser querido

                                                           (http://www.deviantart.com/)

A ti, meu amigo, deixo-te a fascinação, o encantamento e o belo, não permitas que essas coisas te saiam da vida, não há como viver sem a magia da poesia. Se me vires mais uma vez chorando, saibas que vai passar. É triste, é duro, eu sei. Mas guarda esses teus abraços para mais pessoas, distribua-os para os que têm o coração semelhante ao meu, que exaspera bondade  e melancolia.

Afasta-te dos caminhos maus, das veredas inconstantes e das pedras de tropeço. Procura refrigérios, colibris endoidecidos e a temperatura de outono. Se quiseres, podes fazer caminhadas espirituais até o infinito e além, mas volta para cuidar dos teus. Volta sempre com algum acréscimo benéfico para esta vida que é impiedosa e doce. Desvia-te das armadilhas e deixa ramos de orquídeas raras ou ainda margaridas mimosas, no tocante, flores são sempre flores e os girassóis dançam com a luminosidade solar.

Dá-te sempre aos incansáveis tratamentos de amor, não desistas dele, olhe-me como símbolo e mártir, nunca desisti, mesmo sabendo de quantas e quantas vezes amaria e amaria de novo, mesmo tu ouvindo desses meus lábios que não amaria mais. Mas o amor é assim, ele nos pega, nos abraça e se aninha. Ou somos nós que nos aninhamos nele? O amor não é para todos, mas todos devem ser amados. Bem- aventurados os que amam.

Perdoa sempre. Grandiosa virtude é a do perdão. Sê sábio e sorri para a vida. E continua a cultivar os pensamentos dessa pessoa que muito te estima e a fé que ainda tem pela humanidade, essa fé que te deixo para superar o mundo tenebroso. Tomemos um chá de flor que o tempo é raro.


Autoria: Valéria Sabrina

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quem é ela?



Ela me ronda, me prende, me arranha, me desgrenha.
Me puxa pelo cabelo e solta seu hálito cálido em minhas narinas.
Me perfura, me renega, me aperta,
Me lambe, me morde, me acaricia.
Me fascina, me engana, me excita.
Me enraivece, me chora, me ri, me amolece.
Me degusta, me mastiga, me cospe,
Me escarnece.
Me liquidifica, me afunda.
Me queima, me evapora.
Ela não me deixa, me floresce.
Me injuria.
 Me pegou de jeito, essa tal de poesia. 

Autoria: Valéria Sabrina

sábado, 9 de julho de 2011

DOIS ou Juras de Subsistência



Enlaça-me. Não tenhas impropérios.
Recobre tuas dúvidas com a luz divina.
Aquece-me com o fio de tua angústia.
Ela é grande e tardia.
Mas a amo.
Porque tudo que há em ti é digno de amor.
E em mim tudo está demasiado amante
porque a tua força é a minha força
e ela se faz presente nos amavios sinuosos
de tuas retinas extenuadas.

Não te aflijas.
Estarei aqui quando quiseres partir.
Sobre nós esse tempo ardido e descomedido
faz revoadas e renovadas sutis.
Pintarei de púrpura o nosso momento silencioso de dores.
Lacrimerajaremos as injúrias e penas
desses desatinos improváveis,
Mas, encheremos o cálice da vida.
O teu beijo será sempre o meu beijo.       
E minhas mãos não percorrerão
Outra face senão a tua.

O encontro das almas sempre nos será possível.
No deserto. Na chuva. No mormaço.
Em todo o tempo, como em tempo algum.
Da minha alma tirastes pedaços
e eles me são teus.
Eu irei. Tu irás.  
Resignaremos um ao outro.

Num espaço de ternuras e consternações
não nos olvidaremos.
Diluir-nos-emos
pelos rastros imaculados de amor
que por assim encontrarmos.
Por mais ínfimo e recôndito que sejam:
Sobreviveremos. 

Autoria: Valéria Sabrina

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Tênue Caminho

 

Adentrei em teu coração,
perpassei muros,
saltei arames,
enveredei-me em direção à alma.
Um tênue caminho fez-me encontrá-la.
Percebi estilhaços,
feridas descascadas,
cálices transbordando,
uma escuridão e um uivo ao fundo.
Mas quando me dei conta de tamanha profundidade,
uma Lua branca e luminosa surgia,
afagando a minha face com sua luz desvairada.
Havia uma rebeldia instaurada,
uma sede que não passava com água.
Um borbulhamento de crateras lunares a fez explodir,
minar gotas de cristais
que caíram docemente pela minha pele
e fez-me te sentir.
Aqueles frios e ternos cristais vibraram meu ser.
Senti em tua alma
uma paradoxal angelitude regada de desejos insanos.
Alma anafilática,
de congruências sublimes,
que acalanta esmero,
desmedidamente sentimental,
que aflora e fenece com uma similar velocidade.
Chora, ri, geme, padece, encanta, ama.
Falta-lhe um toque,
apenas um pulcro toque que te baste
e nela mesma te encontres,
pois, dentro dela me achastes.

Autoria: Valéria Sabrina
Imagem: www.deviantart.com

domingo, 26 de junho de 2011

Despedida entorpecente

Palavras destiladas com sabor de veneno,
pareciam doces suas enganações.
A força foi esvaindo-se e ficara só o desejo,
o triste desejo de um recomeço
bordado em constantes murmurações.
Já se fez a hora do desencontro
do desencanto, do descontentamento.
A luz dos olhos, esta, já não existe mais.
Armadilhas singelas e imperceptíveis
que tomou a luz e a levou a favor do vento.
Deixe que o vento carregue os tormentos...
E que eles não retornem jamais.

Autoria: Valéria Sabrina

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fluxo da vereda

Minh’alma percorre caminhos que não são meus.
Cenários nunca dantes vistos.
Opúsculos raramente lidos.
Correntezas poucas vezes mergulhadas.
Posso comer as nuvens, experimentar arco-íris
Abocanhar o céu, tragar o sol.
Piso na grama, não me importo com o aviso.
Há a sensação de sonho sonhado e esquecido
Ou um sonho sendo sonhado por outro sonho
E assim seguindo em progressões aritméticas.
Avisto pedras absortas e mesquinhas
Nas suas vidinhas paradas
Necessitando de uma vidraça
Para entender o que é força, o que é quebra
O que é a magnitude de fazer estilhaços e formar caquinhos.
Emburaco-me em fendas frias e cingidas
Como um beijo gélido da madrugada
Arrastam-me para um fluido com aromas de ervas frescas e matinais
Que refrigeram a espinha dorsal
Com um golpe anestésico de machado gasto.
Rabisco lunetas num imaginário horizontal
Elas me dão visões mágicas e fustigantes.
Posso sentir o solo estelar
Embalar-me na melodia cósmica
Esbaldar-me no leite da Via
Adentrar-me em buracos negros
E estagnar na tua vista deleitosa.


Autoria: Valéria Sabrina

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conversa pra ninguém (I) ou pequenos mistérios de sobrevivência


Essa necessidade de ser um no outro acaba por ser inevitável. Temos a opção de sermos nós mesmos. Mas, preferencialmente mergulhamos no outro. Abrigamos-nos nele. Fazemos dele casa e lá moramos com todos os nossos apetrechos e coisinhas furtivas, bugigangas e quinquilharias. Quando nos acomodamos nele, queremos colocar ordem na casa, arrumá-la do nosso jeito, mudar as coisas de lugar, arrastar móveis, limpar poeira, averiguar em baixo do tapete. Então, invadimos seu espaço. Não nos contentamos com o que nos é dado. Não queremos apenas um cômodo da casa, queremos todo o seu terreno, brincar no seu quintal, replantar o seu jardim, retirar as margaridas e substituir por orquídeas, colocar outras toalhas na mesa, trocar os lençóis de cama, abrir as cortinas. Mas cada residência abriga também um banheiro sujo, teias de aranha num cantinho, pedaços de paredes descascando, uma camisa encardida. Não adianta tentar sozinha por ordem na bagunça. Só de olhar dá um nó no juízo sem saber no que mexer primeiro, sem saber também que não nos é permitido alterar o estado de sincronicidade que a casa já está habituada. Temos que faxinar em parceria. Varrer, polir, lavar, regar, sacudir, enxugar, aspirar. A casa nunca ficará limpa e arejada até satisfazermo-nos, é um cuidado contínuo, um zelo conjunto. Tenhamos paciência para a arrumação diária ou para a bagunça instituída. Que seja um lar agridoce lar.

Valéria Sabrina

terça-feira, 7 de junho de 2011

Entrada Triunfal



Invadiu as vísceras
Infiltrou pelos coágulos sanguíneos
Nostalgeou pertinho do coração
E lá fez estância.
Residiu no mais completo descaro
Encarquilhado nesse encontro raro.
Em tuberculosas ocasiões
Fez a escolha pela contrapartida
E aos trôpegos insolentes
Estreou com malquerença a vida.

Autoria: Valéria Sabrina

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Terna oftalmofagia



   Instintivamente se preparava para a chegada dele. Em um sobressalto, sentia as ondas de calor inflar-lhe a pele, acelerar o coração numa disritmia. Era o sinal, um címbalo sonoro e retinente, esse seu coração. Podia ouvir os passos dele em galgares sincronizados. Bastava-lhe a presença, o olhar. 
   Devorava o olhar dele quantas vezes lhe fosse permitido, aquele olhar lânguido e por demais determinado que a fitava em amavios condensados, mas que eram o suficiente para fazê-la viver e suscitar os desejos que exalavam crisântemos efervescentes. Dava mergulhos em seu olhar, saltos triplos com rodopios, piruetas e caía naquela água espalhando gotículas turmalinizadas pelo ar. 
  Aquele olhar era seu lago para passeios matinais, tardes de outonos de fundo caramelados com folhas dispersas que cambaleavam com o vento.Podia comer aqueles olhos, abocanhar aquelas retinas. E perder-se naquele silêncio que consolava sua alma e resvalava toda sorte de oculares carícias. 

                          Autoria: Valéria Sabrina
                             Imagem:http://www.deviantart.com/print/10060367/?itemids=194

sábado, 28 de maio de 2011

Estupidez pueril




OLHOS ALTIVOS, PERCEPÇÕES IMINENTES.
A MENINA TENTAVA ACOMPANHAR A BORBOLETA
QUE RODOPIAVA EM ARES FRESCOS
MULTICOLORINDO OS CAMINHOS QUE PERCORRIA.
A GAROTA QUER TODAS AS CORES PARA ELA
COMO AS FASCINAM...
CÚPULA DE VIDRO. CORES APRISIONADAS.
O SONHO FOI REALIZADO.
- CRIANÇA CRUEL E IMPIEDOSA!
O QUE A TOLICE NOS LEVA A FAZER...
EM CONCRETIZAÇÃO DO SEU EGOÍSMO
MATOU UM SER.
É PRECISO DA MORTE PARA VIVER?


Autoria: Valéria Sabrina

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Anjin du meu Sertão


- Ei mininu! É tu mermu. Eu sei que é tu. Demorô, ein... Tá   cansadu, benzin? A viage foi longa? Eu sabia que tu vinha. Oiei pru céu, sinti qui um anjo ia caí. E é tu meu querubim. Senta! Achu qui tuas asa tá amarrotada. Vô te fazê um cuscuz quentin e um café forte. En ein, deve de tá cum fome, essi meu anjo. Vem! Se acomodi. 

A casa é simplis, mais é tua benzin, vai ser nossu nin. Nossu nin de amô. Depois da janta, deita qui do meu ladin, vô te fazê cafuné até durmi. Quano nóis levantá de manhãzinha, vô te levá pra sintí o sol dessi sertão. É um sol quente, mei violento, mais é bão. Vai gostá, meu anjo, purque quano o calô tá grandi, a gente vai se refrescá nu rio. Vou te banhá. 

E depois vamo corrê mato a dentro, se imaranhá nus arbustu até tu ficá bem coladin ni mim. Aí, a tardinha vai chegano e vamo vê o sol se pono. As istrelinha vão surginu, colorinu esse céu de ondi tu saiu, aí a lua vai alumiá nossos coração e vamu se perdê nessa angelicá noiti de paxão.

Autoria: Valéria Sabrina

Evocação de meus ais




Quero te tatuar em mim, 
ofuscar tuas vontades viscerais aos meus desejos.
Te possuir no mais absoluto, resoluto gracejo,
te explorar as peripécias dessa sobriedade meticulosa.
Dá-me tua mão, vem!
Não tenhas medo.
O mar é grande, mas, maior do que ele é o exagero do amor
que consome meus ardilosos pensamentos a teu respeito.
Eles perpassam o contínuo-espaço tempo 
e te trazem para perto de mim.
Sim! Aqui onde é teu lugar,
Sentindo cada poro, cada centímetro de pele, cada contorno
E os picos de calor e de frio deste meu corpo
Que ora arde extenuadamente em chamas delirantes,
ora se resigna a calafrios que me fazem ranger os dentes.
Mais uma vez te chamo, não demoras...
Perdoe-me esse egoísmo exacerbado, 
mas apressa-te, já é chegada a hora.

Autoria: Valéria Sabrina

domingo, 8 de maio de 2011

E tudo mudou... (Por Luís Fernando Veríssimo)






O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cerejeiras


Num campo repleto de cerejeiras
Vejo-as desfolhando-se, sinuosas,
Espalham-se, assim, as lágrimas do outono
Num tapete em nuances de rosa.
O vento toca em vermelhos carmesins
Doces como um beijo em pleno entardecer
E a saudade inebriada quase que sem fim
Paira em suaves amavios
À procura da fonte qual deve beber.

                          AUTORIA: VALÉRIA SABRINA

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Teu Paraíso




Deprimente. Taciturno. Inconsequente. Definitivamente, não era por esse caminho, que se esperava chegar ao paraíso... O sol antes brilhava docemente, sorria para Lúcia, não era possível que se avistasse sinal de confusão, mas, de maneira soturna, o infortúnio acontecera. Ela, perdida em seus enleios, não se dera conta de onde fora parar. Seus olhos com vivacidade enxergavam além do que podiam, ela via mais do que os meros mortais, mas dessa vez, não fora o suficiente para avistar o paraíso.

Onde estava? Onde se esconderam as águas cristalinas que apaziguavam seu coração? A leve brisa que ninava o seu sono, para onde fora? O cheiro suave de terra molhada e mato fresco, por que se esquivaram dela? Não entendia... Na completude do seu coração atarantado não achava vestígios do paraíso! Estava angustiada... O coração palpitava, dançando uma música de suspense com as tilintadas sombrias do medo. Contudo, esperava recordar o caminho que fizera para desfazê-lo. Cerrou as pálpebras e mergulhou no calabouço da memória. Ah, sim... Agora havia uma luz que a carregava para o momento ostensivo que emanava desilusão, ódio e finalizava com uma taquicardia. 

O ódio instaurara-se no âmago e a transportara para um lugar longe do paraíso. Lembrava então das lágrimas e do sentimento de impotência e abandono. Sabia então, que para achar o lugar de volta, precisava se desvencilhar dessas correntes que a aprisionavam e daquela nuvem cinza que impossibilitava seus olhos de enxergarem como antes. Rogou que se dilacerasse toda a sorte de amargura e que a luz voltasse a guiá-la, e que aquele suor frio que percorria-lhe as costas e congelava as pontas do dedos pudesse transformar-se em calor ávido que aquecesse o seu coração.
E assim se fez...

O que estava perdido foi achado.
O que se fazia frio tornou-se quente.
O que era ódio transfigurou-se em compaixão.
E as lágrimas que escorriam explodiram em sorrisos...
E as pontes até o paraíso puderam ser refeitas e o caminho foi avistado além do horizonte.

“Os sentimentos que deterioram a nossa alma nos afastam do paraíso no qual deveríamos viver. O que sentes te transporta para onde reflete o que cultivas no coração. O que tu cultivas hoje?”

AUTORIA: VALÉRIA SABRINA
imagem: gorjuss.deviantart.com

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cárcere



O ser humano ainda não se deu conta das torturas que aprisionam sua alma
E que destilam na alma alheia.
Não aprisione uma alma.
Tão a torne escrava dos seus nefastos desejos.
Deixe-a livre...
Corra, alumie, levite.
Não a toques se não tem a intenção de fazê-la feliz
Ou ao menos trazer-lhe paz e encantos.
Recoste-se na consciência e mergulhe em toda sua profundidade
Não deixe uma alma aos prantos.


AUTORIA: VALÉRIA SABRINA
Imagem: styush.deviantart.com

domingo, 17 de abril de 2011

Um pouco de Caio F. (Faço minhas as palavras dele...)


Nenhuma luta haverá jamais de me embrutecer, nenhum cotidiano será tão pesado a ponto de me esmagar, nenhuma carga me fará baixar a cabeça. Quero ser diferente, eu sou, e se não for, me farei.

Seria cômico se não fosse trágico!



Ostra feliz não faz pérola (Por Rubem Alves)





"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.

Pois havia num fundo do mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário.

Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão...". Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado na sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.

O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa.

Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo.

A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven – como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa...”.



"Se és uma flor e necessita ser regada, não espere por água de mãos humanas, rogue aos céus que chova."


Valéria Sabrina
Como diria meu amado Quintana: 
"...E que fique muito mal explicado.
Não faço força para ser entendido.
Quem faz sentido é soldado..."

Lexicocardia




Há em mim uma falta momentânea de léxico.

Eu o sinto aqui na ponta do meu membro degustador, deglutinador e articulador dos sons da voz.

Mas ele está preso entre os emaranhados caminhos e ramificações dos neurônios e 
oprimido na minha goela.

Já tentei por vezes expeli-lo.

Tossi, espirrei, cuspi, escarrei.

Tentativas em vão.

Talvez compreenda esse desaparecimento 
súbito.

A palavra sucumbe, pois, está escondida nas profundezas do coração.



Autoria: Valéria Sabrina
Imagem:deviantART.