CLICK HERE FOR FREE BLOGGER TEMPLATES, LINK BUTTONS AND MORE! »

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Tênue Caminho

 

Adentrei em teu coração,
perpassei muros,
saltei arames,
enveredei-me em direção à alma.
Um tênue caminho fez-me encontrá-la.
Percebi estilhaços,
feridas descascadas,
cálices transbordando,
uma escuridão e um uivo ao fundo.
Mas quando me dei conta de tamanha profundidade,
uma Lua branca e luminosa surgia,
afagando a minha face com sua luz desvairada.
Havia uma rebeldia instaurada,
uma sede que não passava com água.
Um borbulhamento de crateras lunares a fez explodir,
minar gotas de cristais
que caíram docemente pela minha pele
e fez-me te sentir.
Aqueles frios e ternos cristais vibraram meu ser.
Senti em tua alma
uma paradoxal angelitude regada de desejos insanos.
Alma anafilática,
de congruências sublimes,
que acalanta esmero,
desmedidamente sentimental,
que aflora e fenece com uma similar velocidade.
Chora, ri, geme, padece, encanta, ama.
Falta-lhe um toque,
apenas um pulcro toque que te baste
e nela mesma te encontres,
pois, dentro dela me achastes.

Autoria: Valéria Sabrina
Imagem: www.deviantart.com

domingo, 26 de junho de 2011

Despedida entorpecente

Palavras destiladas com sabor de veneno,
pareciam doces suas enganações.
A força foi esvaindo-se e ficara só o desejo,
o triste desejo de um recomeço
bordado em constantes murmurações.
Já se fez a hora do desencontro
do desencanto, do descontentamento.
A luz dos olhos, esta, já não existe mais.
Armadilhas singelas e imperceptíveis
que tomou a luz e a levou a favor do vento.
Deixe que o vento carregue os tormentos...
E que eles não retornem jamais.

Autoria: Valéria Sabrina

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fluxo da vereda

Minh’alma percorre caminhos que não são meus.
Cenários nunca dantes vistos.
Opúsculos raramente lidos.
Correntezas poucas vezes mergulhadas.
Posso comer as nuvens, experimentar arco-íris
Abocanhar o céu, tragar o sol.
Piso na grama, não me importo com o aviso.
Há a sensação de sonho sonhado e esquecido
Ou um sonho sendo sonhado por outro sonho
E assim seguindo em progressões aritméticas.
Avisto pedras absortas e mesquinhas
Nas suas vidinhas paradas
Necessitando de uma vidraça
Para entender o que é força, o que é quebra
O que é a magnitude de fazer estilhaços e formar caquinhos.
Emburaco-me em fendas frias e cingidas
Como um beijo gélido da madrugada
Arrastam-me para um fluido com aromas de ervas frescas e matinais
Que refrigeram a espinha dorsal
Com um golpe anestésico de machado gasto.
Rabisco lunetas num imaginário horizontal
Elas me dão visões mágicas e fustigantes.
Posso sentir o solo estelar
Embalar-me na melodia cósmica
Esbaldar-me no leite da Via
Adentrar-me em buracos negros
E estagnar na tua vista deleitosa.


Autoria: Valéria Sabrina

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conversa pra ninguém (I) ou pequenos mistérios de sobrevivência


Essa necessidade de ser um no outro acaba por ser inevitável. Temos a opção de sermos nós mesmos. Mas, preferencialmente mergulhamos no outro. Abrigamos-nos nele. Fazemos dele casa e lá moramos com todos os nossos apetrechos e coisinhas furtivas, bugigangas e quinquilharias. Quando nos acomodamos nele, queremos colocar ordem na casa, arrumá-la do nosso jeito, mudar as coisas de lugar, arrastar móveis, limpar poeira, averiguar em baixo do tapete. Então, invadimos seu espaço. Não nos contentamos com o que nos é dado. Não queremos apenas um cômodo da casa, queremos todo o seu terreno, brincar no seu quintal, replantar o seu jardim, retirar as margaridas e substituir por orquídeas, colocar outras toalhas na mesa, trocar os lençóis de cama, abrir as cortinas. Mas cada residência abriga também um banheiro sujo, teias de aranha num cantinho, pedaços de paredes descascando, uma camisa encardida. Não adianta tentar sozinha por ordem na bagunça. Só de olhar dá um nó no juízo sem saber no que mexer primeiro, sem saber também que não nos é permitido alterar o estado de sincronicidade que a casa já está habituada. Temos que faxinar em parceria. Varrer, polir, lavar, regar, sacudir, enxugar, aspirar. A casa nunca ficará limpa e arejada até satisfazermo-nos, é um cuidado contínuo, um zelo conjunto. Tenhamos paciência para a arrumação diária ou para a bagunça instituída. Que seja um lar agridoce lar.

Valéria Sabrina

terça-feira, 7 de junho de 2011

Entrada Triunfal



Invadiu as vísceras
Infiltrou pelos coágulos sanguíneos
Nostalgeou pertinho do coração
E lá fez estância.
Residiu no mais completo descaro
Encarquilhado nesse encontro raro.
Em tuberculosas ocasiões
Fez a escolha pela contrapartida
E aos trôpegos insolentes
Estreou com malquerença a vida.

Autoria: Valéria Sabrina

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Terna oftalmofagia



   Instintivamente se preparava para a chegada dele. Em um sobressalto, sentia as ondas de calor inflar-lhe a pele, acelerar o coração numa disritmia. Era o sinal, um címbalo sonoro e retinente, esse seu coração. Podia ouvir os passos dele em galgares sincronizados. Bastava-lhe a presença, o olhar. 
   Devorava o olhar dele quantas vezes lhe fosse permitido, aquele olhar lânguido e por demais determinado que a fitava em amavios condensados, mas que eram o suficiente para fazê-la viver e suscitar os desejos que exalavam crisântemos efervescentes. Dava mergulhos em seu olhar, saltos triplos com rodopios, piruetas e caía naquela água espalhando gotículas turmalinizadas pelo ar. 
  Aquele olhar era seu lago para passeios matinais, tardes de outonos de fundo caramelados com folhas dispersas que cambaleavam com o vento.Podia comer aqueles olhos, abocanhar aquelas retinas. E perder-se naquele silêncio que consolava sua alma e resvalava toda sorte de oculares carícias. 

                          Autoria: Valéria Sabrina
                             Imagem:http://www.deviantart.com/print/10060367/?itemids=194